sábado, 30 de maio de 2009

A sombra de um pavilhão

O texto a seguir, meu, foi retirado de uma sequência bem-humorada de e-mails entre amigos, relativa a essa catástrofe.
Sabe o que me deixa insano?
É um projeto (o dos outros países também)
que não contribui em nada em pesquisa alguma.
Uma exposição dessa era pra dizer:

"Nós, do Brasil, lidamos com
estes problemas - que não são exatamente
o seus - e esse é um dos modos de encararmos,
essa é a forma (arquitetura)".

Que tipo de arquitetura séria, hoje, pode ser "implantada"
(nem sei se aplica) de modo tão displicente?
Você não sabe onde o pavilhão fica em Xangai!
Não entende Xangai, e a coisa não faz entender.
Você não sabe o que o pavilhão oferece a Xangai.
(além, óbvio, da fantástica bola de futebol).
Você sabe que, para a arquitetura (tectônica), não oferece nada.

Eu vi uma palestra do Marcelo Ferraz ontem, na FAU...
Ele se colocou a respeito da nossa sociedade e da
nossa arquitetura de modo que não dá pra ser diferente
se é pra resolver.

Essa maluquice "decorativa" (mas que não é "de coração")
é o tom da arquitetura-droga (narcótico): tira a atenção,
desvia o olhar daquilo que precisa ser encarado e nos coloca
num estado de delírio e histeria onde as coisas encerram-se
em si mesmas e para si mesmas.
Em sua existência, a humanidade usa essa fórmula para não resolver coisa alguma.
Espero que nossa geração dê conta de confrontar essa insanidade.

2 comentários:

  1. na 2ª edição de urbanismo em fim de linha, a otília arantes colocou uma nota introdutória aos textos na qual ela relembra uma conversa tida com tafuri nos anos 80.

    veja:
    (...)[tafuri] foi um dos primeiros a dizer que arquitetura já era coisa do passado (curioso! veja um texto da lina bo bardi dos anos 70 em que ela fala algo "parecido": "a obsolescência da arquitetura hoje está clara, a perda de sentido das grandes esperanças da arquitetura moderna, claríssima"

    continuando:
    (...)Nunca se projetou tanto e tão ostensivamente como nas duas últimas décadas de retorno avassalador às cidades. No entanto, estou cada vez mais convencida de que uma simples revista das obras dos principais personagens do atual star system arquitetônico demonstraria que não é mais de arquitetura que se trata. (...) Tampouco se poderia falar em urbanismo quando já não é mais possível distinguir o planejador do empreendedor. Enfim "nem arquitetura nem cidades". Acho que fim de linha também deve ser isso. Não sei se Tafuri concordaria.

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  2. aliás: há alguns anos eu achava que críticas como essa eram apenas imobilizadoras, não levavam a lugar nenhum (que a verdadeira "crítica de arquitetura é outra arquitetura", etc). Hoje acho que nosso único caminho é aprofundar a crítica (seja ela teoria ou prática, práxis, etc).

    trechos do texto da lina citado acima estão aqui: notasurbanas.blogsome.com/2009/05/02/repostagem-industrializacao-profissao-bo-bardi

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